Esporte Olímpico, legado social e políticas públicas de esporte

Recentemente fui convidado pela Confederação Brasileira de Voleibol para ministrar cursos de capacitação para professores e estudantes de Educação Física pelo projeto Transforma - Rio 2016. Concebido pelo Rio 2016 o projeto em parceria com as Confederações Brasileiras de diversas modalidades oferece aos profissionais e estudantes de educação física a oportunidade de se reciclarem e aprenderem novas modalidades, aplicando e transferindo estes conhecimentos para o universo escolar.

Esta é uma das inúmeras possibilidades que podem ser desenvolvidas, fortalecendo as modalidades esportivas menos conhecidas e praticadas, podendo servir como ferramenta de massificação do esporte no país, favorecendo assim a descoberta de talentos a médio/longo prazo.

A grande questão é que lá na ponta, nas unidades escolares e comunidades, os professores raramente encontram condições mínimas de porem em prática os seus conhecimentos, na maioria das vezes faltam locais adequados, materiais específicos, e, até mesmo entusiasmo e motivação em mudar o panorama do esporte atual.

Para o tão desejado legado social dos jogos olímpicos não bastam ações isoladas como esta, mas sim vontade e comprometimento com as políticas públicas de esporte e lazer, além é claro de entendimento por parte dos governantes e legisladores que os investimentos no esporte, principalmente o inclusivo, seguro e educacional tem poder transformador, geram empregos, oportunidades e reduzem significativamente o quadro de risco social e de saúde causados pelo sedentarismo e ausência de atividades psicomotoras socializantes que promovam reflexão, autonomia, espírito de equipe, dentre outros valores que o esporte pode proporcionar.

É preciso entender que a simples construção de um equipamento esportivo, a entrega de unidades esportivas nas comunidades e o investimento exclusivamente no esporte competitivo não geram os resultados esperados na sociedade, muitas vezes soam como ações com interesses pessoais acima dos sociais, não promove a socialização mas sim a segregação, beneficiam uma minoria em detrimento de uma demanda reprimida de oportunidades, dentre outros fatores. Ter ciência destes fatores negativos talvez seja o primeiro passo a ser dado para se tratar com seriedade as políticas de esporte no País, Estados e Municípios.

Massificar, democratizar o acesso, oferecer a maior variedade possível de vivências esportivas nas mais diversas modalidades, oferecer espaço físicos de qualidade, valorizar o coletivo e os profissionais que ensinam o esporte, disseminar a prática esportiva desde a mais tenra idade, tem sido a forma mais eficiente de promover mudanças significativas não só na sociedade, mas também nos resultados do esporte competitivo.

Caso contrário não passaremos de uma país que constrói fisicamente os equipamentos, porém os sub utilizam com a falta de programas de qualidade e ausência de profissionais habilitados e comprometidos, seria como fazer postos de saúde sem colocar médicos e insumos.

“A prática desportiva, vale dizer, o desenvolvimento dos esportes, não pode continuar sendo algo amorfo, sem vida, abandonado à própria sorte ou depender de gestões isoladas, às vezes até heroicas” Desconheço o autor.

Alexandre Arêas

Educador Físico – Gestor de Esporte, personal trainer e especialista em treinamento desportivo

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Matéria do jornal Diário do Leste - 15-04-2016